Técnica de dança – um tópico tão desafiante…
Este artigo sobre a técnica de dança, é o primeiro, de uma serie de artigos que vou elaborar dedicados à Analise Sistemática de Conteúdos nas Danças a Par ou muitas vezes ditas Danças Sociais (Salsa, Bachata, Kizomba, Tango, Danças de Salão e outras) e a sua natural relação com a técnica.
Nós, professores e de um modo geral os aficionados de dança, acabamos muitas vezes a conversar animadamente sobre esta temática – a técnica de dança. E as teorias e opiniões são numerosas e apaixonadas. Às vezes tão aguerridas como as discussões futebolísticas. E claro a temática promove também muitas aulas de dança, apesar de infelizmente muitas vezes apenas se resumirem à transmissão de passos, figuras e sequências.
Nunca foi o caso da nossa escola de dança, pensamos neste assunto profundamente, em vezes de replicar processos pelos quais passamos ao longo das nossas vidas. Analisamos seriamente a biomecânica das ações, de forma a perceber a anatomia envolvida, a sua mobilização e sobretudo o ganho de eficiência. E estamos completamente conscientes que a técnica de dança que nos servia à dez anos não nos serve agora, pois a dança está em constante evolução, tem novas exigências e nós temos muitos mais conhecimentos que podemos agregar.
Durante o período de confinamento adotamos a temática da técnica de dança individual, nas aulas Online (ainda disponíveis) de uma forma mais preponderante dadas as circunstâncias. Agora nas aulas presenciais, mantivemos a oferta de um grupo significativo de aulas cuja temática é a técnica de dança individual em todos os ritmos. E o êxito é evidente, com uma notória evolução individual desses alunos mesmo trabalhando de uma forma analítica.
Que técnica de dança preconizamos?
Há múltiplas técnicas de dança, não só entre as diferentes disciplinas como, Tango, Salsa, Kizomba, Chacha ou Ballet, Contemporâneo, Jazz. Mas também dentro de uma mesma disciplina, podemos encontrar diferentes técnicas. E isso, apesar de muitas vezes surpreender os alunos e criar algum desconforto naqueles que já experimentaram várias escolas ou diferentes professores, é perfeitamente natural. A técnica de dança deve servir o movimento. E se os movimentos, estilos, recursos são diferentes, certamente as técnicas para os executar também. Na nossa abordagem fusionamos muitas áreas de ensino da dança, conseguindo uma maior amplitude de recursos e linguagem. E é isso que temos vontade de partilhar com vocês nos próximos artigos!
O que é a técnica?
A palavra tem a sua origem no grego “techné” cuja tradução é arte. A técnica, confundia-se com a arte, tendo sido separada desta ao longo dos tempos.
A técnica é também a parte material de uma arte, o conjunto dos processos de uma arte, a prática.
Técnica é o conjunto de processos baseados em conhecimentos científicos, e não empíricos, utilizados para obter certo resultado, o conjunto dos processos de uma arte, de um ofício ou de uma ciência.
Eu não resisto à definição desportiva que tantas vezes ouvi na faculdade: a técnica é o meio mais eficaz para atingir a performance desejada com o menor dispêndio de energia. E reforço a palavra meio, pois a técnica não é o fim apenas o meio para atingir a arte.
A técnica não deve ser usada para ser vista, tipo, estou a esticar as pernas e agora dou uma volta com ponto de foco. A técnica só é técnica quando de forma invisível torna possível tudo o que queremos fazer.
Qual é a nossa abordagem à técnica de dança?
A nossa estratégia pedagógica fundamenta-se na Analise Sistemática de Conteúdos, este processo de estruturação de analise foi desenvolvido inicialmente com um dos nossos super maestros Mariano Chicho Frumboli no âmbito do Tango. Ele é um craque, um pensador, um homem inquieto que nunca pára de pensar como pode fazer melhor, ou criar algo novo. Alguém que eu gosto de definir como um filósofo do movimento. Estudar com ele somou muito a todos os nossos conhecimentos anteriores no âmbito da anatomia e biomecânica, e da experiência adquirida ao longo dos anos.
Depois de muito insistir com Chicho para que escrevesse um artigo ou um livro sobre estes assuntos, que tanto nos fascinam e interessam, e que consideramos serem do interesse de muitos alunos e colegas de trabalho, ele respondeu-me que se eu tinha essa inquietude de descrever, planificar e partilhar, era algo que eu deveria fazer. E sugeriu-me inclusive o Mindly para eu explanar melhor o meu pensamento e criar os meus mapas mentais. Adoro-o! Ele sempre nos estimula a estudar, analisar… e voar! Um guru!
Tudo o que vou partilhar com vocês nos próximos artigos, tem obviamente grande contribuição de Chicho, mas resulta da nossa (Isabel e Nelson) própria jornada, opinião e estudo nas Danças Socias (sejam elas o Tango, Salsa Kizomba ou outras), logo nem tudo é defendido ou partilhado por Chicho, mesmo no que diz respeito ao Tango, pelo que é da nossa inteira responsabilidade.