A importância dos pés saudáveis na dança

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Pés saudáveis – a importância da consciência corporal

Pés saudáveis são determinantes para qualquer bailarino. No passado dia 29 de Abril celebramos, de uma forma bem diferente da habitual, o Dia mundial da dança. Durante todo o dia, de hora a hora, a equipa Ritmo Azul produziu pequenos conteúdos em vídeo partilhando com toda a comunidade as suas experiências particulares que considerou poder ter interesse para os demais. Um dos tópicos que suscitou mais interesse e comentários foi o “Cura-te!!!!!”, pelo que decidimos aprofundar um pouco mais e dar-te mais informação.

Ao longo da minha carreira de bailarina e professora de dança, foram muitas as aprendizagens que não estão diretamente relacionadas com o movimento, técnica, expressividade, criatividade ou outras características fundamentais ao processo artístico. Uma das aquisições mais importantes foi o desenvolvimento da consciência corporal, da biomecânica e do conhecimento e reconhecimento interior.

Consciência Corporal – da cabeça aos pés saudáveis

Hoje vou-me centrar, em como a consciência corporal pode detectar e solucionar problemas físicos e biomecânicos. Mais concretamente na região dos pés.

Habituamo-nos a estar com a cabeça numa coisa enquanto o corpo faz outra, o que diminui a conexão mente-corpo. A dança resgata essa conexão, exigindo que nos concentremos e nos tornemos mais conscientes do corpo e das emoções. Aula a aula descobrimos novos músculos, mais possibilidades de movimento, mas também tomamos consciência de sensações que talvez nunca tivéssemos percecionado, ao mesmo tempo apercebemo-nos das nossas limitações, assimetrias, dores, etc.

A técnica que assiste a cada tipo de dança melhora naturalmente o equilíbrio, coordenação, mobilidade e muitos outros aspetos que tem um impacto positivo direto na nossa saúde e bem estar. Mas na busca da melhor performance, da resolução de um problema particular de algum aluno ou até na procura da compensação muscular e articular de problemas decorrentes desta atividade específica, descobri muitos outros conhecimentos interdisciplinares que me ajudaram, e que te podem ajudar a ti!

Os pés – fonte de problemas ou de saúde?

Vou começar então pelos pés. Uns pés saudáveis são determinantes para os bailarinos não só porque são a base de sustentação, possibilitam uma infinidade de movimentos e deslocamentos rítmicos, como eles próprios dão forma à expressividade. Pés saudáveis podem potenciar a performance desportiva através de uma harmonização com as restantes partes do corpo.

Mas os pés também são foco de problemas e dores. São muitas e variadas as razões, entre elas a adoção de más posturas, calçado inadequado, exercícios errados, falta de alongamentos, falta de estimulação, repetição excessiva ou carga excessiva.

Um pé é constituído por 26 ossos e uma enorme quantidade de articulações, tendões, fáscias e músculos que tornam esta uma das partes mais complexas do nosso corpo em virtude de sermos bípedes. Ele tem função de suporte, controle e estabilidade, ajuste à superfície de contacto, amortecimento de choques, propulsão, tração e locomoção entre outras.  Através da reflexologia e outras técnicas sabemos que o pé tem igualmente uma relação direta com a coluna e o resto dos orgãos. Pelo que quando conseguimos solucionar um problema lá, melhoramos logo várias coisas. E eu sei por experiência, que quando a mudança se processa de dentro para fora e sob o controlo do próprio individuo ela é quase sempre definitiva. E assim descobrimos o poder de nos curarmos!

Digo várias vezes aos meus alunos que os pés são assim complexos porque se desenvolveram para serem muitíssimo estimulados e utilizados. Atualmente dada  a nossa vida sedentária e a evolução tecnológica eles estão adormecidos. Corremos, caminhamos e saltamos muito menos que o homem primitivo. Deslocamo-nos quase sempre em superfícies planas, com calçados ergonómicos que nos protegem de grande parte dos impactos. Logo, faltam muitos estímulos, muitos dos pontos articulares nunca são mobilizados e sabemos que a inatividade é muito grave sendo foco de problemas ortopédicos. Não digo que utilizar calçados ergonómicos seja mau, alerto só para o facto que excesso de proteção, especialmente quando não a necessitamos, pode embrutecer e entorpecer esta parte do corpo.

Maltratar pés e suas consequências

Se temos praticamente o mesmo numero de ossos nas mãos que nos pés poderíamos ser tão hábeis com os pés como somos com as mãos. Assim, ser capaz de articular separadamente cada um dos dedos, controlar voluntariamente a extensão e contração deles, aumentar ou diminuir o arco plantar, suportar o peso em qualquer quadrante do pé, entre outras ações, deveria ser algo comum entre todas as pessoas. Mas todos os dias, encontro inúmeros alunos que não o conseguem fazer. Muitas vezes são pessoas que ao longo das suas vidas desenvolveram caminhadas ou atitudes completamente inadequadas e que por si só é um milagre que estejam de pé.

Claro que o corpo é como a água, encontra sempre um caminho para servir o mestre, mesmo que para isso castigue muitas outras partes do corpo para atingir o objetivo. Os castigos podem ser, fascite plantar, joanetes, neuroma de Morton, pé plano ou raso, ou localizarem-se noutras partes do esqueleto.

Também o uso de saltos altos compromete bastante a saúde dos pés. Pois descarrega todo o peso do corpo numa só área do pé e de um modo geral comprime muito o metatarso. Eu sempre sugiro às minhas alunas que utilizem sempre sapatos específicos para a modalidade mas com bases amplas que lhes permitam a movimentação dos pés. E que os usem de forma adequada e por tempo limitado. Os meus preferidos são Tangolera!

Exercícios para a saúde os pés

instrumentos usados por bailarinos na manutenção de pés saudáveis

Nas aulas de dança ser-te-ão solicitados inúmeros exercícios que aumentarão a consciência e controlo dos pés e da ação de marcha. Mas vou partilhar contigo mais alguns estímulos interessantes.

O “Champ de Fleurs” é um tapete que fornecer estímulos ideais, maximizando os efeitos da acupressão e minimizando a sensação de queima. Os seus picos não penetram na pele, mas a sensação é muito intensa para o sistema nervoso. Numa fase inicial podes começar a utilizar com meias e depois descalçar-te. Melhora a circulação sanguínea e nervosa, relaxa e alivia dores.

 

Os “Foot Wakers” parecem um dispositivo de tortura mas são os meus preferidos, para além de estimulantes, ajudam a alongar as diferentes partes do pé, abrindo espaço para os músculos e tendões, isso reflete-se imediatamente nas pernas, quadris e costas.

Mas se tu não tens, nem pretendes investir em nada disto, existem alguns objetos ao alcance de todos muito úteis. Bolas de ténis, permitem-nos calcar e rolar assemelhando-se um pouco aos Foot Wakers.

Separadores de dedos da manicura, ajudam a ampliar a expansão dos dedos e consequentemente o seu alinhamento e controlo.

 

Uma simples toalha no chão permite manipular e apreender de forma a desenvolver coordenação força e o arco plantar.

Acredito que estas dicas te ajudam a complementar o trabalho técnico das nossas aulas de dança. Espero que possam melhor a tua condição física e até solucionar algum problema.

Caso não tenhas visto não percas agora o nosso video do Dia Mundial da Dança:

 

 

Isabel Costa

Isabel Costa - professora, bailarina e directora da escola de dança Ritmo Azul

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2 thoughts on “A importância dos pés saudáveis na dança”

  1. Paula Martins

    Já encomendei o Champ de fleur.. Mal vi a Isabel com o seu fiquei logo interessada em adquirir um.. Acho que vou fazer muito uso dele.

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