Cinesiologia no Tango – as ancas

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A cinesiologia e a biomecânica são conhecimentos que utilizamos em todas as nossas aulas, desde o Tango às Danças de Salão. E que são natural resultado da nossa formação de base. Antes de passarmos à temática do artigo, comecemos por esclarecer o que é a cinesiologia, já que muitos não estão familiarizados com este termo.

O que é a cinesiologia?

A cinesiologia é a disciplina que estuda e analisa os movimentos humanos. A cinesiologia pode descrever a ação dos músculos envolvidos nas ações, através das forças e ângulos neles aplicados. Este estudo pretende potencializar o desempenho de um atleta ou, no nosso caso, de um bailarino. Mesmo no caso de alguém que o faz de forma amadora, melhorando o seu desempenho e anulando os riscos da atividade física.

No seguimento, desta ideia, hoje trazemos aqui no blog uma reflexão que ao longo dos anos tem sido mais ou menos polémica.

Cinesiologia no Tango – mexe-se as ancas ou não?

O artigo de hoje , vem na sequência dos textos dedicados ao tópico de técnica de dança. Centra-se na analise concreta da cinesiologia aplicada à disciplina de Tango, por ser nesta onde existe mais dogmas acerca deste facto. Apesar de que todos os argumentos por nós aqui utilizados se aplicarem às restantes danças sociais, como Salsa, Bachata, Kizomba ou qualquer um dos ritmos das danças de salão.

Para nós, a resposta a esta pergunta é, obviamente que sim! Sim, mexe-se as ancas a dançar Tango.

Aliás, evitar a ação natural da anca provoca a maioria dos problemas de equilíbrio dos alunos.

Como a cinesiologia nos mostra a anatomia humana tem uma biomecânica própria que exige essa natural articulação para um perfeito equilíbrio. Ainda mais exigente quando no Tango a perna livre e base tem elevadas exigências. É assim quando andamos, corremos e claro que quando dançamos também!

Na realidade é biomecânicamente impossível não mover a anca quando caminhamos. E todos sabemos que o Tango é caminhar! Esta impossibilidade deve-se ao facto desta articulação poder efetuar movimentos em vários planos. Neste caso, possui uma cavidade articular que permite uma grande mobilidade pois as superfícies em contacto são esféricas ou complementares desta forma. Esta característica é determinante para o nosso equilíbrio.

cinesiologia do tango 1

Defendemos que na dança devemos procurar que o corpo se mova da forma mais orgânica e natural possível. Neste sentido, não respeitar a biomecânica, acarreta vários problemas não só na locomoção como também na eficiência do movimento. A longo prazo provocará ainda lesões musculares, articulares ou de outra natureza.

A importância da cinesiologia nas aulas de Tango

Acreditamos que aulas de dança com correto fundamento cientifico, podem ser ótimos meios de recuperação física, nomeadamente da marcha.

No entanto, a estética do Tango não evidencia uma ação semelhante às danças afro-latinas. Podemos afirmar que no deslocamento frontal é algo mais natural que decorre da marcha comum. Aqui o ataque ao solo faz-se com o calcanhar (isto também será assunto de um outro artigo, dado que é também um dogma técnico para muitos).

Muito importante ressaltar, que o angulo entre o fémur e a pélvis se vai alterando durante a marcha. E a tendência natural da carga gravitacional projetada sobre a pélvis, no apoio unilateral, é de projetar a pélvis para o chão. Desta forma, fica diminuído o angulo referido na perna de suporte. Esta diminuição é tanto menor quanto a força do glúteo médio. Pelo que este músculo tem uma ação funcional muito importante para que a nossa anca não se mova em excesso.

Como pode um aluno corrigir esta situação sem criar exageros?

Ao verificarmos os princípios da cinesiologia, a principal recomendação é que verifiquem que o peso do corpo (refletido no centro de massa),  se projeta no meio do pé da perna base. Durante a marcha, este desloca-se suave e alternadamente para cima de cada uma das pernas base. De uma forma simples, pode-se dizer que esse movimento será maior ou menor de acordo com a dimensão da anca. Mais concretamente a distância entre as cabeças dos fémures. Por isso, o movimento da anca é normalmente mais evidente nas mulheres.

Cinesiologia no Tango: a perna livre

Outro aspeto importante dos followers no Tango é que a perna livre tem muitíssima mobilidade e grandes exigências de reação à marca. Neste sentido, é importante nos momentos em que a perna livre está a ser liderada (ex: voleios, ganchos, sacadas, etc.) não utilizarmos nenhum musculo de suporte na tentativa de reequilibrar a anca, para que a perna livre não perca liberdade.

Nestes momentos, procuramos que a carga gravitacional projete a pélvis livremente para o chão, sem intervenção do glúteo médio. Por consequência relaxamos todos os músculos do lado da perna livre. Isto culminará com a perna livre do follower a ser uma extensão natural do corpo do líder.

Conclusão: no tango, mexe-se as ancas ou não?

Como verificamos, através da biomecânica e cinesiologia aplicada ao Tango, sim. De facto, mexemos as ancas ao dançar Tango.

Isabel Costa - professora, bailarina e directora da escola de dança Ritmo Azul
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